quarta-feira, 5 de novembro de 2008

LUGAR

Deixo aqui uma definição de lugar que considero das mais bonitas que tenho lido.

Um verdadeiro coelhinho, este raio de sol, um ser vivo e querido! Acompanhamos carinhosamente o seu deslizar pela parede, cada passo seu está repleto de sentido, augura a aproximação do passeio, conta uma a uma as várias meias horas que faltam para o almoço, e antes de este chegar desaparece.
[…] Para os presos dos três primeiros andares da Lubianka, o passeio é desagradável: metem-nos num pequeno pátio inferior, húmido, no fundo de um estreito poço entre os edifícios da cadeia. Pelo contrário, os presos do quarto e do quinto andares são levados para um ninho de águias, para um telhado do quinto andar. É verdade que o chão é de cimento, que as paredes são de betão, tendo a altura de três homens; e havendo junto delas um guarda desarmado, bem como, de atalaia na torre, uma sentinela de arma automática, mas o ar é autêntico e autêntico é o céu! "Mãos atrás das costas! Em fila de dois! Não conversar! Não parar!" Só se esqueceram de proibir que se levante a cabeça! e tu, naturalmente, levanta-la. Aqui podes ver, já não o reflexo, já não a imagem indirecta, mas o próprio Sol! O próprio Sol, eternamente vivo! Ou o seu derramar dourado através das nuvens primaveris.

Soljenitsine, Alexandre, Arquipélago de Gulag, Livraria Bertrand, Amadora, 1975, p.185-6.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

#1


Com a Pentel.
À esquerda, ainda com um receio que à direita se desvaneceu.
- o pincel agora encharcado!…e para espanto meu a senhora surgiu molhada num fundo branco.